"(...) as realidades mais óbvias, onipresentes e fundamentais são com frequência as mais difíceis de ver e conversar a respeito. Dito dessa forma, em uma frase, é claro que isso não passa de uma platitude banal, mas o fato é que nas trincheiras cotidianas da existência adulta as platitudes banais podem ter uma importância vital, ou pelo menos é o que eu gostaria de sugerir a vocês nessa manhã de tempo seco e agradável." (David Foster Wallace, "This is water", 2005)

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O Corão e o problema da literalidade

O Islã acusado de violento e agressivo. Mas veja-se a 2ª Surata, "Al Bácara" ("a vaca"):

190. Combatei, pela causa de Deus, aqueles que vos combatem; porém, não pratiqueis agressão, porque Deus não estima os agressores.

191. Matai-os onde quer que os encontreis e expulsai-os de onde vos expulsaram, porque a perseguição é mais grave do que o homicídio. Não os combatais nas cercanias da Mesquita Sagrada, a menos que vos ataquem. Mas, se ali vos combaterem, matai-os. Tal será o castigo dos incrédulos.

192. Porém, se desistirem, sabei que Deus é Indulgente, Misericordiosíssimo.

193. E combatei-os até terminar a perseguição e prevalecer a religião de Deus. Porém, se desistirem, não haverá mais hostilidades, senão contra os iníquos.

É claramente uma postura de autodefesa.

Claro, a morte de inimigos pode chocar nossa mente civilizada do séc. XXI, mas o comando corânico deve ser interpretado dentro de seu contexto histórico-material. E, modernamente, interpretado do ponto de vista do simbólico e do figurado; o bom combate não se dá necessariamente de armas na mão.

A literalidade é um problema. O texto escrito nem sempre dá conta de toda a questão. É por isso que, em Direito, sou pós-positivista: lei escrita mas cotejada com algo maior. O fundamentalista -islâmico ou jurídico- quer o ipsis litteris mas, vejam só, "a" pode ser lido como "a" ou como "a"- no fim das contas o que existe são interpretações pessoais.

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