"(...) as realidades mais óbvias, onipresentes e fundamentais são com frequência as mais difíceis de ver e conversar a respeito. Dito dessa forma, em uma frase, é claro que isso não passa de uma platitude banal, mas o fato é que nas trincheiras cotidianas da existência adulta as platitudes banais podem ter uma importância vital, ou pelo menos é o que eu gostaria de sugerir a vocês nessa manhã de tempo seco e agradável." (David Foster Wallace, "This is water", 2005)

sábado, 24 de agosto de 2013

O Velho da Casa Triste

Outra tradução. Dessa vez, dedicada a Trotsky: o poema "You Are The Old Man In The Blue House", de Kevin Higgins, membro do Permanent Revolution Readers Group no Facebook (aqui). O poema original está aqui. Como sói acontecer, minha tradução é livre, solta e inventiva.

O Velho da Casa Triste

Fazendo a si mesmo
promessas impossíveis.

Lá fora
cactos e lobos,
quando não se tem
para onde ir.

Já faz um tempão desde que carimbaram
em teu passaporte:
REJEITADO.

Ameixas cristalizadas,
em teu quinquagésimo nono aniversário,
e uma bandinha tocando.

E, enquanto isso, lá fora,
teus amigos
vão sendo
baleados na nuca.

A tempestade de agosto às portas
ecoando as palavras do Procurador Geral:
"-Abaixo com o abutre, e esses miseráveis filhos
de porcos com raposas!
"

Em tua mão,
profeta desarmado,
a pistola descarregada.

Esperas por
sabe-lá-quem
que abrace teu crânio e murmure,
"acabou".

Piedade é promessa
que não se realiza.
Ameixas cristalizadas e bandinhas tocando,
quando não se tem
para onde ir.

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