"(...) as realidades mais óbvias, onipresentes e fundamentais são com frequência as mais difíceis de ver e conversar a respeito. Dito dessa forma, em uma frase, é claro que isso não passa de uma platitude banal, mas o fato é que nas trincheiras cotidianas da existência adulta as platitudes banais podem ter uma importância vital, ou pelo menos é o que eu gostaria de sugerir a vocês nessa manhã de tempo seco e agradável." (David Foster Wallace, "This is water", 2005)

terça-feira, 25 de junho de 2013

Fascismo e manifestações "apartidárias"- não passarão!

A recentes manifestações no Brasil têm para mim o mesmo caráter dos levantes árabes: movimentos que surgiram, de forma espontânea, por uma pauta legítima de massas -no caso brasileiro, o combate ao aumento das passagens- que, ao longo do processo, foram cooptados, sequestrados, pela direita reacionária. Veja-se a forma como as bandeiras nacionais apareciam cada vez mais, em meio a palavras de ordem de fácil digeribilidade junto à classe média ("contra a corrupção", "contra a PEC 37", "fora partidos" etc.). E a mudança de discurso da grande imprensa? Antes baderna, a manifestação de segunda (17/ 06) foi anunciada com sorriso por Patrícia Poeta no "Jornal Nacional". Também pudera: a direita conseguia cada vez mais dar a pauta do movimento. E como também a direita tem suas contradições -existem inclusive no interior das classes- acabou por recuar, quando viu que as coisas estavam indo longe demais, principalmente após quinta (20), quando se deu a tentativa de incêndio do Palácio do Itamaraty. Há setores da extrema-direita que estão interessados na desestabilização profunda do governo petista e o retorno dos militares. Disso não se duvida. Mas outra direita não quer isso, ao menos não quer agora, e o editorial d'"O Globo" do sábado (22) -aqui-, em que critica o antipartidarismo e fala em golpismo, é exemplo.

Ah, o antipartidarismo. Quando a massa gritava "fora partido", queria dizer, "fora partidos de esquerda". Porque era a esquerda que estava nas ruas, desde primeira hora. Fora a bandeira vermelha, viva a bandeira nacional: eis o fascismo na rua, de forma orquestrada, pois a hostilidade organizada contra a esquerda se viu no País inteiro, em torno das mesmas palavras de ordem e mesmas provocações. E tudo conforme a direita cooptava o movimento: ao longo do processo as bandeiras vermelhas estavam presentes (13/ 06), então foram hostilizadas e vaiadas (17) e, quando o fascismo se sentiu forte pra isso, tomadas (ao menos tentaram) e os militantes da esquerda agredidos, covardemente. A massa não é fascista, mas fez coro com os fascistas, no dia 20 na Avenida Presidente Vargas: apoiou, com sua aversão à política e postura "apartidária", o que há de mais atrasado e reacionário no espectro político. E aquela horda fascista, com o "apoio moral" recebido, atacou por trás a coluna vermelha com bombas e pedras.

Que seja- no pasarán. A luta de classes tem muitos capítulos. Socialismo ou barbárie, e aposto minhas fichas no socialismo.

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