"(...) as realidades mais óbvias, onipresentes e fundamentais são com frequência as mais difíceis de ver e conversar a respeito. Dito dessa forma, em uma frase, é claro que isso não passa de uma platitude banal, mas o fato é que nas trincheiras cotidianas da existência adulta as platitudes banais podem ter uma importância vital, ou pelo menos é o que eu gostaria de sugerir a vocês nessa manhã de tempo seco e agradável." (David Foster Wallace, "This is water", 2005)

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Essa nostalgia pelo oceano, que sentes

Adaptado do "Masnavi" de Rumi. Neste link, há as versões de E.H. Whinfield e Coleman Barks.

Foste criado entre galinhas, decerto
na mesquinhez do ciscar em terra.

Tua mãe é ave marítima, todavia
e ganhar amplidões a sua natureza.

Essa nostalgia pelo oceano, que sentes
é herança da tua mãe.

Estás na terra mas não pertences a ela
tal é tua verdade e teu legado.

Abandona então a paz da terra firme
e adentra o oceano do Real Eu.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Assim doravante preciso suportar a separação

E afastou-se deles, dizendo: Ai de mim! Quanto sinto por [meu filho] José!
E seus olhos ficaram anuviados pela tristeza, havia muito retida.
Disseram-lhe: Por Allah, não cessarás de recordar-te de José até
que adoeças gravemente ou fiques moribundo!?
Ele lhes disse: Só exponho perante Allah o meu pesar e a minha
angústia, porque sei de Allah o que vós ignorais…

(Yussuf, 12: 84-86)

*

Dedicado a GLAUCO AFFONSO TEJO
21/ 03/ 14 - 13/ 04/ 14
Filho Querido
No 1º ano de seu passamento

*

Os versos a seguir são um trecho de um poema do "Diwan" de Muhyiddin ibn al-Arabi, "al-Shaykh al-Akbar" (O Grande Mestre), místico sufi que ainda não aparecera aqui. Escrevi a presente versão a partir da versão em inglês de Ralph Austin. O poema é a propósito do falecimento da filha de Ibn al-Arabi, e foi escrito pelo sheik logo após o funeral da menina.

Desde a Idade Média islâmica, toda a solidariedade aos pais que tiveram a dolorosa experiência de descer os filhos ao túmulo.

Com minhas próprias mãos
deitei minha filhinha
para o descanso
em seu último leito

com minhas próprias mãos
pois ela
é da minha própria carne.

Assim doravante preciso
suportar a separação

eis que minhas mãos,
já vazias,
nada mais contêm.

Entre o ontem
que já foi
e o amanhã
que será

estamos nós,

eu e minha filhinha

atados a este momento.

domingo, 12 de abril de 2015

Está sempre bêbado de amor

Ainda Rumi, também através da versão em inglês de Shahram Shiva.

O Amante está sempre

bêbado
     de
          amor.

Ele é louco
ela, livre.

Ele canta com
     prazer

ela dança em
     êxtase.

Enquanto nós, presos
em nossos próprios
     medos
nos preocupamos
com tudo.

Mas uma vez

bêbados
     de
          amor

o que tiver
de
ser
será.

sábado, 11 de abril de 2015

Pensas que viver é apenas respirar?

Outro Rumi, a partir da versão em inglês de Shahram Shiva.

Pensas que viver
é apenas

respirar?

Lamento que tua vida
seja assim tão

limitada.

Não fiques sem amor

ou te sentirás

na morte.

Morre tu em amor
e assim vives para sempre.