"(...) as realidades mais óbvias, onipresentes e fundamentais são com frequência as mais difíceis de ver e conversar a respeito. Dito dessa forma, em uma frase, é claro que isso não passa de uma platitude banal, mas o fato é que nas trincheiras cotidianas da existência adulta as platitudes banais podem ter uma importância vital, ou pelo menos é o que eu gostaria de sugerir a vocês nessa manhã de tempo seco e agradável." (David Foster Wallace, "This is water", 2005)

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Amarga constatação

Eleições domingo, e a desalentadora notícia de que os mais reacionários estão dentre os mais lembrados para a Câmara. A fascistização está no ar: a esquerda e movimentos sociais atacados nas "jornadas de junho" de 2013, candidatos a presidente -reparem, o cargo máximo da República- vociferando os discursos mais homofóbicos e atrasados. Enquanto isso, o famigerado art. 46 da lei 9.504 retira o direito de partidos como o PCB, PSTU e PCO participarem dos debates televisivos.

O brasileiro é conservador, e isso é evidente. A imagem de tolerância, carnavalesca, do povo receptivo e solidário é apenas um estereótipo. O trombadinha é espancado por "populares" na Rua do Rosário, sob a janela do meu escritório, e todos param para ver e aplaudir; alguns para aproveitar e dar uma porradinha também, é claro, e todos saem satisfeitos com a justiça feita. Afinal, se as autoridades nada fazem, "nós" faremos; mas o afã "justiçador" tem por alvo o trombadinha descalço e esquálido, enquanto o megaempresário passa incólume, aliás, o que um homem de bem poderia fazer de mal? Porrada no menino negro, loas ao engravatado de olhos azuis.

O relógio roubado pelo trombadinha: cem reais, digamos. O prejuízo causado pelo empresário: quase um bilhão e meio de reais. Mas o ódio "justiçador" da turba é seletivo. O fascismo ganha as massas. Eleições domingo, e quem viver verá.