"(...) as realidades mais óbvias, onipresentes e fundamentais são com frequência as mais difíceis de ver e conversar a respeito. Dito dessa forma, em uma frase, é claro que isso não passa de uma platitude banal, mas o fato é que nas trincheiras cotidianas da existência adulta as platitudes banais podem ter uma importância vital, ou pelo menos é o que eu gostaria de sugerir a vocês nessa manhã de tempo seco e agradável." (David Foster Wallace, "This is water", 2005)

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A polícia que não tem "curiosidade"

A polícia brasileira tem um jeito curioso de "investigar". Primeiro escolhe a versão e, uma vez escolhida, passa-se a colher provas que lhe sirvam. Isso fica claro em episódios recentes da crônica policial. Por exemplo, nos casos da família Pesseghini e do jovem Kaique. Não há cautela, não há reservas, não há cuidado- a polícia dá logo o "diganóstico" (-foi isso!, -foi aquilo!), e então se vai buscar provas que fundamentem a versão.

Exagero? Os ingênuos que leiam esta entrevista, na qual agente da polícia federal deixa claro que "(...) a necessidade de você obter uma informação é até você obter o que você quer. O que eu quero? Provar nosso ponto perante a justiça, curiosidade é coisa de menino".

Essa é a polícia no Brasil. Colhendo informações até provar o ponto "dela". O resto é "curiosidade de menino". Felizmente o inquérito policial "não é indispensável à propositura de ação penal, podendo a acusação formar seu convencimento a partir de quaisquer outros elementos informativos" (Eugênio Pacelli, "Curso de Processo Penal"), o que, em verdade, mostra o quanto uma polícia parcial e obtusa é, ela própria, dispensável.

Fica aqui para esses "investigadores" -os de boa-fé, ao menos- a lição de Conan Doyle, pela boca de Sherlock Holmes:

É um erro capital teorizar antes de se ter os dados. Invariavel­mente começamos a torcer os fatos para se ajustarem à teoria, em vez de ser a teoria a ajustar-se aos fatos.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Divino Van Gogh

De Manoel de Barros (vi aqui):

Um girassol se apropriou de Deus: foi
em
Van Gogh.

Henry Miller já associara Van Gogh à divindade (aqui, no velho blog). Associemos de novo, nunca é demais.