"(...) as realidades mais óbvias, onipresentes e fundamentais são com frequência as mais difíceis de ver e conversar a respeito. Dito dessa forma, em uma frase, é claro que isso não passa de uma platitude banal, mas o fato é que nas trincheiras cotidianas da existência adulta as platitudes banais podem ter uma importância vital, ou pelo menos é o que eu gostaria de sugerir a vocês nessa manhã de tempo seco e agradável." (David Foster Wallace, "This is water", 2005)

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Entre bretões e saxões

Entre bretões e saxões, na história inglesa, gosto de ambos. Uns, sofisticados e romanizados, donos da ilha; outros, invasores bárbaros passando o rodo. Fatos há séculos e quilômetros de distância mas que mexem conosco, em um nível emocional, digamos assim, e se você acredita em vidas passadas (já acreditei, hoje não mais, mas tive minha cota de causos) faz todo o sentido do mundo. A trilogia de Artur do Bernard Cornwell é boa. Agora pretendo ler, tendo tempo, as "Crônicas Saxônicas".

Como quer que seja, e ficando dentro do espírito, que interessante a história do Reino de Gwynedd em Gales.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

É preciso mais que xingar o prefeito

E eis que Eduardo Paes, cuja saída da prefeitura do Rio é desejo ardente do blog (aqui), se envolve em confusão, dando um soco (!) em um cidadão que lhe xingara de "bosta" (aqui, aqui). O alcaide deveria saber que o homem público (?) está, necessariamente, na berlinda; atrai manifestações e opiniões, muitas vezes desagradáveis. É o preço do cargo e, mais do que isso, o preço das escolhas políticas adotadas. Um prefeito como Eduardo Paes não pode achar que merece tapetes vermelhos por onde anda. Em outros momentos e circunstâncias, aliás, apenas ser chamado de "bosta" seria lucro ("Se essa palhaçada fosse na Cinelândia/ Ia juntar muita gente pra pegar na saída", como cantaram os Paralamas, numa música que depois do lulismo no poder adquiriu tristes cores irônicas).

Há outra coisa, chamada compostura. Elemento indispensável para a vida em sociedade, é exigida ao quadrado do homem, de novo, "público". Como autoridade (!) maior da cidade, Eduardo Paes anda acompanhado de seguranças. As matérias que noticiaram o fato confirmam isso. É fácil a um homem, com um séquito assim, afastar um agressor, de forma, digamos, limpa- sem tumulto ou alvoroço. Mas não. Paes, talvez para mostrar que "é homem", partiu ele mesmo pra cima do sujeito, apesar de garantido por seguranças. Aí já é linchamento. Cercado pelos brutamontes, o cidadão sequer poderia revidar. Cenas lamentáveis, pois, violência-pastelão digna do Rio de Janeiro de Eduardo Paes.

Ah, mas o cidadão tem o direito de xingar o prefeito que, naquela ocasião, era um cidadão em momento privado, jantando com a esposa? Antes de mais nada, o mandato acompanha o político. Não deixa de ser prefeito por estar jantando com a família, e a presença dos seguranças é exemplo disso. Segundo, o mero xingamento, como dito acima, pode mesmo ser pouco, conforme o grau de distensão social do momento. A questão, aqui, é outra: se meramente xingar o prefeito ajuda em alguma coisa. Assim como o terrorismo individual é inócuo para a emancipação da classe trabalhadora (conforme os marxistas denunciamos reiteradamente, vide aqui), esse tipo de protesto é vazio. Afastar Eduardo Paes e os interesses que representa da prefeitura do Rio de Janeiro (o que é apenas uma pequena parcela do problema) requer um amplo trabalho de conscientização das massas (coisa, aliás, de que o "agressor" talvez sequer tenha interesse, pois desconheço sua posição no espectro ideológico). Xingar o prefeito por si só é inútil, portanto. Mas lava a alma, ah, como lava.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

E é por isso que a prosa de Bukowski

A diferença entre Henry Miller e Charles Bukowski é que, se ambos comeram o pão-que-o-diabo-amassou, Bukowski se importava mais. Miller aparece como que protegido por sua aura de egoísmo (que Anaïs Nin atesta) e com o curioso dom de encontrar apoiadores ao redor do mundo. Vendia bem seu peixe, na medida do possível. Bukowski sofria mais. Acusava mais os golpes e encarnava o alcoólatra semi-lumpem dos seus textos, emoção demais para botar pra fora mas sem encontrar a forma adequada para tal. Daí se autodestrói, é o que resta. Miller sente a mesma coisa, mas sofre menos. Por sofrer mais, Bukowski adota a imagem de durão, uma defesa, naturalmente, e é por isso que a prosa de Bukowski é mais grosseira que a de Miller. Miller, perto do Dirty Old Man, é um cavalheiro.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

"Precisamos de um herói para proteger os derrotados..."

Bukowski, dos "pedaços de um cadernos manchado de vinho":

precisamos de um herói para proteger os derrotados, um Quixote dos moinhos de vento, aqui e agora, e depois de pensarmos tê-lo descoberto, será tarde demais para vê-lo engajado contra o inimigo, sorridente e tocando o chapéu, como se nos considerasse um bando de idiotas por acreditar nele, e realmente éramos.

Pois é, somos idiotas por acreditar em heróis. Há que superar o vício infantil, do qual inclusive "marxistas" -aspas propositais- são vítimas, vide o apelo dos "guias geniais" de todo tipo. Mas venceremos. Sem "heróis".

domingo, 19 de maio de 2013

Desenvolver a ciência, mas também (e principalmente) o homem

Hoje mais cedo, Syfy Channel. Coisas incríveis, geringonças e parafernálias que mostram o quanto a Humanidade tem progredido. Coisas de ficção científica à disposição do mercado em dez, cinco anos no máximo. Não só para nossos netos, mas aqui e agora.

E nós, das Ciências Humanas e Sociais (Direito inclusive)? Também temos nosso papel nessa evolução. Não bolando geringonças ou descobrindo a nova equação, mas ajudando o ser humano a se descobrir. Afinal, a técnica não prescinde da consciência que lhe manuseia, e é justamente aí o nosso campo- o educador também é educado, conforme a Terceira Tese Sobre Feuerbach, o mundo é um dado objetivo mas não "pronto" ou "acabado". Sofre a ingerência humana. E quem é esse homem? É aí que está nossa tarefa -compreender e dotar esse homem de recursos para sua autoemancipação-, tarefa essa que, entendo eu, necessariamente está inserida na luta anticapitalista, na perspectiva de construção do socialismo visando ao comunismo futuro, à luz do marxismo revolucionário.

terça-feira, 14 de maio de 2013

PT: bonapartismo, não frente popular

Na polêmica entre PSTU e MNN (aqui e aqui, respectivamente), a posição do último sobre o caráter do governo lulodilmista:

A caracterização feita pelo PSTU de que os governos Lula e Dilma seriam de Frente Popular baseia-se na definição do PT como um partido operário que governa em aliança com setores da burguesia. Ou seja, o governo do PT estaria em disputa entre a classe operária e a classe burguesa. A caracterização feita pelo PSTU concede excessivamente ao PT, conferindo-lhe um caráter operário o qual ele não possui.

É exatamente como penso, como disse aqui e aqui. O PT é um partido burguês com influência de massas (posição também da Liga Comunista). No governo, tem caráter bonapartista. Não é uma frente popular (como também acha a LBI), pois isso pressupõe disputa com setores operários, quando, na verdade, não há setores operários influindo no governo.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Enquanto houver capitalismo, haverá escravidão

Treze de Maio, abolição da escravatura- mas a pergunta continua, houve mesmo abolição? Preconceito de cor e exploração ainda são realidades, no Brasil e no mundo. E continuarão a ser na sociedade de classes. O combate ao racismo, portanto, anda junto com o combate à opressão de classe, que no capitalismo atingiu o paroxismo. Todas as lutas específicas -de cor, gênero, estudantil, ecológica- precisam estar inseridas na luta maior anticapitalista.

Quanto maior a opressão imposta a dado segmento social, maior a necessidade de engajamento na luta. Quando, em 1932, camaradas negros da África do Sul travaram contato com a Oposição de Esquerda (Bolchevique-Leninista), Trotsky, em circular interna, lembrou que a "palavra decisiva para o desenvolvimento da Humanidade" pertence às camadas do proletariado sob opressão de cor, duplamente exploradas na sociedade capitalista (aqui).

Não percamos isso de vista. A abolição da escravidão ainda está na ordem do dia.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Maioridade penal, estupro- e individualismo

Causa comoção o novo episódio de violência na cidade, o estupro cometido durante um assalto a ônibus (aqui, aqui). O fato do criminoso ser menor aumenta o clamor público pela redução da maioridade penal, discussão na berlinda em razão do recente assassinato de um universitário, também em um assalto, por um menor, em São Paulo (aqui).

A redução da maioridade penal é assunto complexo, e me reporto a este post, onde aprofundo um pouco -mas apenas um pouco- o tema. Desde já há que lembrar que não se reduz criminalidade na base da canetada ou do recrudescimento da política criminal. Assunto complexo que é, o "crime" pressupõe soluções -se é que se pode falar em soluções- complexas.

O que causa espanto no episódio do estupro, para além do próprio ato abjeto de estupro, é o fato de nenhum dos passageiros ter agido no sentido de deter o criminoso. É claro que não se deve reagir diante de indivíduos armados; mas será que a dinâmica dos fatos não permitiria que alguém interferisse? Afinal, era apenas 1 (um) sujeito, com um revólver, concentrado em um estupro (!) à vista dos demais passageiros. Não havia homens naquele veículo, alguém com coragem o bastante para agarrar o meliante? Repito que ninguém deve tentar bancar o heroi. Mas o fato, ao menos como passado pela mídia, dá a entender que as coisas poderiam ter sido diferentes. Parece-me outro sintoma do individualismo reinante: ninguém quer se meter, ninguém quer se envolver. Se não é conosco, tudo bem. Cada um por si e deus por todos.

Lançamento da revista "Palestina Resiste"

Ajudando na divulgação. Extraído aqui.

15 DE MAIO - LANÇAMENTO DA REVISTA "PALESTINA RESISTE"

VENHA PARTICIPAR DESTE ATO DE SOLIDARIEDADE COM A RESITÊNCIA ANTIMPERIALISTA E ANTISIONISTA ÁRABE!

No dia 15 de Maio, durante a exposição Nakba - a tragédia palestina, haverá o lançamento da revista PALESTINA - resiste. Às 18 horas, no Fórum de Ciência e Cultura -UFRJ- Átrio do Palácio Universitário- Praia Vermelha- Rio de Janeiro