"(...) as realidades mais óbvias, onipresentes e fundamentais são com frequência as mais difíceis de ver e conversar a respeito. Dito dessa forma, em uma frase, é claro que isso não passa de uma platitude banal, mas o fato é que nas trincheiras cotidianas da existência adulta as platitudes banais podem ter uma importância vital, ou pelo menos é o que eu gostaria de sugerir a vocês nessa manhã de tempo seco e agradável." (David Foster Wallace, "This is water", 2005)

quarta-feira, 22 de julho de 2015

A síntese é sempre tensionada

Da dialética. A síntese é sempre tensionada; não fecha o conflito. O marxista argentino Eduardo Grüner: "(...) a consequência que extrai Adorno é inequívoca: a dialética, para sê-lo verdadeiramente, deve ser negativa. Isto é: deve ficar tensamente 'em suspenso' (...)". O conflito não é "superado" -no sentido de apagado- e sim converte-se qualitativamente em outra coisa, é conflito também.

[Originariamente no Facebook, aqui].

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Esconde uma alma lírica

Mas ainda Charles Bukowski ("ainda" se não estava falando antes?, mas é que é uma sombra que paira sempre). A casca às vezes esconde um interior radicalmente diferente; já conheci palhaços sociais que, reservadamente, me confidenciaram ser tímidos. Tudo máscara, tudo camuflagem, "tudo que é visível não passa de uma máscara" (Melville). O lúmpen bêbado de Bukowski esconde uma alma lírica. Tem ali uma sensibilidade insuspeita. Já fiz esta comparação antes: Henry Miller é mais refinado mas cínico; sofre menos que Bukowski, bruto mas honesto.

[Postado originariamente no Facebook, aqui].

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Dar caráter transcendente à resistência

Reflexão do domingo de manhã. Estava vendo a página de um coletivo, se colocando pró-Assad, o que está correto. Porém, o conjunto de suas posições lhe colocava nitidamente no "terceiro campo" -nem direita nem esquerda, defesa de valores tradicionais etc.-, isto é, fascista. É oportuno fazer demarcações claras nesse assunto. Nem tudo que é anti-imperialista será, no conjunto, necessariamente progressista. Eu, quando defendo a resistência capitaneada por Assad (ou qualquer outra de caráter nacional-burguês), o faço a partir de um ponto de vista marxista revolucionário. Não estou rebaixando minha pauta, ao contrário, quero dar caráter transcendente à resistência a princípio meramente nacional-burguesa. É compreender que a luta anti-imperialista só pode se completar no âmbito da revolução socialista. Esse é o aspecto vertical -o de profundidade- da revolução permanente trotskyana.

[Postado originariamente no Facebook, aqui].