"(...) as realidades mais óbvias, onipresentes e fundamentais são com frequência as mais difíceis de ver e conversar a respeito. Dito dessa forma, em uma frase, é claro que isso não passa de uma platitude banal, mas o fato é que nas trincheiras cotidianas da existência adulta as platitudes banais podem ter uma importância vital, ou pelo menos é o que eu gostaria de sugerir a vocês nessa manhã de tempo seco e agradável." (David Foster Wallace, "This is water", 2005)

domingo, 13 de dezembro de 2015

FMI versus BRICS, mas para o esquerdista é "tudo igual"

[Neste link], O FMI manobrando para beneficiar o "grupo do dólar" em detrimento dos BRICS. Apesar do esquerdista se recusar a notar as nuances e contradições -vale dizer, se recusar a adotar uma leitura dialética, "simplificando a realidade" como fazem os sectários denunciados por Trotsky no "Programa de Transição"-, o fato é que o imperialismo principalmente desde a crise econômica de fins de 2000's tem sofrido fissuras em sua outrora inabalável hegemonia. Há um bloco alternativo se configurando e, mesmo que transite ainda nos marcos do capitalismo, seu ascenso é progressista por resultar neste cada vez maior enfraquecimento do imperialismo e permitir a multipolaridade global. Mas o esquerdista, este infantil, vai dizer que é "tudo igual".

[Originariamente no Facebook, aqui]

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Todo apoio ao bloco Putin-Assad-xiita contra a barbárie do wahhabismo e da OTAN.

Infame a [suposta] imagem do corpo do piloto russo, abatido covardemente e vilipendiado pelos chacais da "oposição" wahhabista-otanista. Há algum tempo assisti um vídeo da al-Nusra, onde os psicopatas, numa encenação macabra, simulavam um diálogo com a cabeça decepada de um soldado [do regime]. O ISIS tem as mesmas práticas. O vídeo com um combatente do Exército "Livre" Sírio comendo -literalmente- o coração de um adversário já é um clássico do horror. É esse tipo de bandidos que o Exército Árabe Sírio de Assad está enfrentando. É inadmissível que o país caia diante disso. Isso não tem nada de revolução. Ao contrário, é reação, para atender ao imperialismo e ao sionismo. Portanto, todo apoio ao bloco Putin-Assad-xiita contra a barbárie do wahhabismo e da OTAN.

[Postado originariamente no Facebook, aqui].

sábado, 1 de agosto de 2015

Respeitar a pluralidade de revelações

Uma reflexão teológica. O seguinte texto deste blog -da linha espírita "não-chiquista", isto é, partidária do retorno às posições kardequianas originais, deturpadas que teriam sido no Brasil católico- é oportuno por tocar num ponto importante: a tendência de 99,99% dos credos religiosos de se enxergarem como A visão correta. Deus tem a NOSSA imagem, e a do OUTRO está errada. Isso é ruim. Diversos vieses e concepções podem se conjugar, dialeticamente, e lá na frente se encontrar. Na sua "biografia" do Corão, Bruce Lawrence chama-o de "Um Livro de Sinais", "um', não "o", o que significa respeitar a pluralidade de revelações.

[Originariamente no Facebook, aqui]

quarta-feira, 22 de julho de 2015

A síntese é sempre tensionada

Da dialética. A síntese é sempre tensionada; não fecha o conflito. O marxista argentino Eduardo Grüner: "(...) a consequência que extrai Adorno é inequívoca: a dialética, para sê-lo verdadeiramente, deve ser negativa. Isto é: deve ficar tensamente 'em suspenso' (...)". O conflito não é "superado" -no sentido de apagado- e sim converte-se qualitativamente em outra coisa, é conflito também.

[Originariamente no Facebook, aqui].

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Esconde uma alma lírica

Mas ainda Charles Bukowski ("ainda" se não estava falando antes?, mas é que é uma sombra que paira sempre). A casca às vezes esconde um interior radicalmente diferente; já conheci palhaços sociais que, reservadamente, me confidenciaram ser tímidos. Tudo máscara, tudo camuflagem, "tudo que é visível não passa de uma máscara" (Melville). O lúmpen bêbado de Bukowski esconde uma alma lírica. Tem ali uma sensibilidade insuspeita. Já fiz esta comparação antes: Henry Miller é mais refinado mas cínico; sofre menos que Bukowski, bruto mas honesto.

[Postado originariamente no Facebook, aqui].

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Dar caráter transcendente à resistência

Reflexão do domingo de manhã. Estava vendo a página de um coletivo, se colocando pró-Assad, o que está correto. Porém, o conjunto de suas posições lhe colocava nitidamente no "terceiro campo" -nem direita nem esquerda, defesa de valores tradicionais etc.-, isto é, fascista. É oportuno fazer demarcações claras nesse assunto. Nem tudo que é anti-imperialista será, no conjunto, necessariamente progressista. Eu, quando defendo a resistência capitaneada por Assad (ou qualquer outra de caráter nacional-burguês), o faço a partir de um ponto de vista marxista revolucionário. Não estou rebaixando minha pauta, ao contrário, quero dar caráter transcendente à resistência a princípio meramente nacional-burguesa. É compreender que a luta anti-imperialista só pode se completar no âmbito da revolução socialista. Esse é o aspecto vertical -o de profundidade- da revolução permanente trotskyana.

[Postado originariamente no Facebook, aqui].

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Essa nostalgia pelo oceano, que sentes

Adaptado do "Masnavi" de Rumi. Neste link, há as versões de E.H. Whinfield e Coleman Barks.

Foste criado entre galinhas, decerto
na mesquinhez do ciscar em terra.

Tua mãe é ave marítima, todavia
e ganhar amplidões a sua natureza.

Essa nostalgia pelo oceano, que sentes
é herança da tua mãe.

Estás na terra mas não pertences a ela
tal é tua verdade e teu legado.

Abandona então a paz da terra firme
e adentra o oceano do Real Eu.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Assim doravante preciso suportar a separação

E afastou-se deles, dizendo: Ai de mim! Quanto sinto por [meu filho] José!
E seus olhos ficaram anuviados pela tristeza, havia muito retida.
Disseram-lhe: Por Allah, não cessarás de recordar-te de José até
que adoeças gravemente ou fiques moribundo!?
Ele lhes disse: Só exponho perante Allah o meu pesar e a minha
angústia, porque sei de Allah o que vós ignorais…

(Yussuf, 12: 84-86)

*

Dedicado a GLAUCO AFFONSO TEJO
21/ 03/ 14 - 13/ 04/ 14
Filho Querido
No 1º ano de seu passamento

*

Os versos a seguir são um trecho de um poema do "Diwan" de Muhyiddin ibn al-Arabi, "al-Shaykh al-Akbar" (O Grande Mestre), místico sufi que ainda não aparecera aqui. Escrevi a presente versão a partir da versão em inglês de Ralph Austin. O poema é a propósito do falecimento da filha de Ibn al-Arabi, e foi escrito pelo sheik logo após o funeral da menina.

Desde a Idade Média islâmica, toda a solidariedade aos pais que tiveram a dolorosa experiência de descer os filhos ao túmulo.

Com minhas próprias mãos
deitei minha filhinha
para o descanso
em seu último leito

com minhas próprias mãos
pois ela
é da minha própria carne.

Assim doravante preciso
suportar a separação

eis que minhas mãos,
já vazias,
nada mais contêm.

Entre o ontem
que já foi
e o amanhã
que será

estamos nós,

eu e minha filhinha

atados a este momento.

domingo, 12 de abril de 2015

Está sempre bêbado de amor

Ainda Rumi, também através da versão em inglês de Shahram Shiva.

O Amante está sempre

bêbado
     de
          amor.

Ele é louco
ela, livre.

Ele canta com
     prazer

ela dança em
     êxtase.

Enquanto nós, presos
em nossos próprios
     medos
nos preocupamos
com tudo.

Mas uma vez

bêbados
     de
          amor

o que tiver
de
ser
será.

sábado, 11 de abril de 2015

Pensas que viver é apenas respirar?

Outro Rumi, a partir da versão em inglês de Shahram Shiva.

Pensas que viver
é apenas

respirar?

Lamento que tua vida
seja assim tão

limitada.

Não fiques sem amor

ou te sentirás

na morte.

Morre tu em amor
e assim vives para sempre.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Não desista da solidão tão rápido

Mais poesia persa. Agora, Shams al-Din Hafiz Shirazi (séc. XIV), em versão minha a partir desta versão em inglês.

Não desista da solidão tão
     rápido.

Deixe que ela
     corte
          mais
               um pouco.

Deixe que em você
ela fermente
e amadureça
como poucos elementos
     humanos
     ou
     divinos
          podem fazer.

Esta noite
meu coração
sente falta de algo

que fez
meu olhar suave
minha voz terna

minha
     necessidade
          de Deus
absolutamente
     clara.


sábado, 7 de fevereiro de 2015

Deixe que o amor seja

Outra tradução de Rumi, a partir da versão de Coleman Barks.

Deixe que o amor seja

desgraçado
louco
perdido.

Alguém sóbrio
-ao contrário-
se preocuparia
se as coisas
não vão
bem.

Mas deixe que
o amor
seja.