A diferença entre Henry Miller e Charles Bukowski é que, se ambos comeram o pão-que-o-diabo-amassou, Bukowski se importava mais. Miller aparece como que protegido por sua aura de egoísmo (que Anaïs Nin atesta) e com o curioso dom de encontrar apoiadores ao redor do mundo. Vendia bem seu peixe, na medida do possível. Bukowski sofria mais. Acusava mais os golpes e encarnava o alcoólatra semi-lumpem dos seus textos, emoção demais para botar pra fora mas sem encontrar a forma adequada para tal. Daí se autodestrói, é o que resta. Miller sente a mesma coisa, mas sofre menos. Por sofrer mais, Bukowski adota a imagem de durão, uma defesa, naturalmente, e é por isso que a prosa de Bukowski é mais grosseira que a de Miller. Miller, perto do Dirty Old Man, é um cavalheiro.
"(...) as realidades mais óbvias, onipresentes e fundamentais são com frequência as mais difíceis de ver e conversar a respeito. Dito dessa forma, em uma frase, é claro que isso não passa de uma platitude banal, mas o fato é que nas trincheiras cotidianas da existência adulta as platitudes banais podem ter uma importância vital, ou pelo menos é o que eu gostaria de sugerir a vocês nessa manhã de tempo seco e agradável." (David Foster Wallace, "This is water", 2005)
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E eu, com minha humilde opinião, prefiro o alter-ego de Chinaski. Factótum então, sua melhor obra.
ResponderExcluirMiller é mais "trabalhado", e tem uma sabedoria, digamos, "espiritual". Mas me identifico muito com o estilo de Bukowski, que também tem sua sabedoria (às vezes insuspeitamente). Simpatizo mais com Buk.
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