"(...) as realidades mais óbvias, onipresentes e fundamentais são com frequência as mais difíceis de ver e conversar a respeito. Dito dessa forma, em uma frase, é claro que isso não passa de uma platitude banal, mas o fato é que nas trincheiras cotidianas da existência adulta as platitudes banais podem ter uma importância vital, ou pelo menos é o que eu gostaria de sugerir a vocês nessa manhã de tempo seco e agradável." (David Foster Wallace, "This is water", 2005)

domingo, 28 de agosto de 2016

De celibato, a propósito de uma obscura seita russa

Sexo enquanto tabu, nada obstante ser uma das pulsões mais básicas da vida. O celibato, conforme Terry Eagleton, deveria ser entendido (naquilo que ele propõe como uma leitura progressista, não-esterotipada, da religião) não como uma repulsa, uma aversão, ao sexo, mas muito pelo contrário, como um sacrifício em prol de uma causa superior. O sujeito gosta de sexo. Não abriria mão do sexo. Todavia, em vista das dificuldades da tarefa (no caso religioso, a intenção de se dedicar "in totum" à senda devocional), abre mão de um prazer terrestre em prol da realização eterna na outra vida. Mas parece que o que vigora na mente dos fanáticos e fundamentalistas de todo tipo, ao contrário, é a aversão pura e simples; o sexo como pecado, sujo, obra de satanás. Tal aversão ao sexo parece-me evidentemente doentia, leve ao celibato ou não (ou, pior ainda, ao extremo da castração). O trato corânico com o sexo é diferente. Não apenas o casamento é sunna [tradição], como o sexo é permitido, mesmo em noites de jejum (2:187, 223), sendo o desejo sexual natural, como os demais gostos terrenos (3:14).

[Originariamente no Facebook, aqui; matéria relacionada, aqui]

Nenhum comentário:

Postar um comentário