"(...) as realidades mais óbvias, onipresentes e fundamentais são com frequência as mais difíceis de ver e conversar a respeito. Dito dessa forma, em uma frase, é claro que isso não passa de uma platitude banal, mas o fato é que nas trincheiras cotidianas da existência adulta as platitudes banais podem ter uma importância vital, ou pelo menos é o que eu gostaria de sugerir a vocês nessa manhã de tempo seco e agradável." (David Foster Wallace, "This is water", 2005)

terça-feira, 8 de abril de 2014

Lançar tudo fora, abrir mão de tudo

Para Fernando Rodrigues Felix

Muito tempo depois, escuto novamente a música Mantra de Nando Reis que, no final das contas, ainda é o titã mais em evidência, ao lado de Tony Bellotto. A letra traz o chamado oriental ao desapego: Quando não se tem mais nada/ Não se perde nada. É preciso perder para crescer; esvaziar para tornar a encher, mas com um conteúdo novo.

Lançar tudo fora, abrir mão de tudo. O que (re)encontraremos, nesse vazio? Rumi, lá do século XIII islâmico, ecoa esse apelo milenar:

(...)
Eu deixei o meu cérebro.
Eu rasguei minha roupa em pedaços
e joguei-a fora.

Se você não está completamente nu,
então se enrole num lindo roupão de palavras

E durma.

Precisamos estar nus. Despindo, revelamos.

Enquanto nós aqui, na sociedade de classes do século XXI- no afã de acumular, do ponto de vista material, mais e mais e, nesse "mais", nos tornando cada vez "menos". Já nos dizia Marx, "a desvalorização do mundo humano cresce na razão direta da valorização do mundo das coisas".

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