"(...) as realidades mais óbvias, onipresentes e fundamentais são com frequência as mais difíceis de ver e conversar a respeito. Dito dessa forma, em uma frase, é claro que isso não passa de uma platitude banal, mas o fato é que nas trincheiras cotidianas da existência adulta as platitudes banais podem ter uma importância vital, ou pelo menos é o que eu gostaria de sugerir a vocês nessa manhã de tempo seco e agradável." (David Foster Wallace, "This is water", 2005)

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Onde o trabalho da enxada não tem sentido

Diz Exupéry, no "Terra dos Homens":

Queremos ser libertados. O que dá uma enxadada no chão quer saber o sentido dessa enxadada. E a enxada do forçado, que humilha o forçado, não é a mesma enxada do lavrador, que exalta o lavrador. A prisão não está onde se trabalha com a enxada. Não há o horror material. A prisão está onde o trabalho da enxada não tem sentido, não liga quem o faz à comunidade dos homens. E nós queremos fugir da prisão.

Sem perceber, Exupéry, que não era marxista, explica um conceito caro aos marxistas- o da alienação. Alienação, "alheamento", é justamente isto: não se identificar com o trabalho, com o mundo, sentir-se um estranho diante das tarefas do cotidiano. Alienação é quando a vida não tem sentido, quando não se identifica com ela mesma. Adam Schaff, ao tratar da alienação no processo do trabalho, diz que a mesma "baseia-se no fato de que o trabalhador sente esse processo como obrigação (...) por essa razão, o homem foge ao trabalho quando pode, é infeliz quando trabalha e apenas sente a si mesmo fora do trabalho" (in "O marxismo e o indivíduo"). A alienação se verifica de várias formas: não apenas no trabalho, como na religião, no nacionalismo etc. e, como Schaff frisa, ainda existirá no socialismo que, obviamente, não é a panaceia das mazelas humanas nem o paraíso na terra. Daí, prossegue Schaff, a luta contra a alienação ser "uma luta pela liberdade do homem, em que o homem se torna dono e consciente de seu destino".

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